quarta-feira, 24 de março de 2010

A Criação


Primeiro, havia o Caos, que era o Nada do Mundo, e isto era tudo quanto nele
havia. Nem Céu, nem Mar, nem Terra - nada disto havia. Apenas três reinos coexistiam: o
Ginnungagap (o Grande Vazio), abismo primitivo e vazio, situado entre Musspell (o Reino
do Fogo) e Niflheim (a Terra da Neblina), terra da escuridão e das névoas geladas.
Durante muitas eras, assim foi, até que as névoas começaram a subir lentamente das
profundezas do Niflheim e formaram no medonho abismo de Ginnungagap um gigantesco
bloco de gelo.
Das alturas abominavelmente tórridas do Musspell, desceu um ar quente e este
encontro do calor que descia com o frio que subia de Niflheim começou a provocar o
derretimento do imenso bloco de gelo. Após mais alguns milhares de eras - pois que o
tempo, então, não se media pelos brevíssimos anos de nossos afobados calendários - o
1 "As Kenningar", "A Metáfora"; J. L. Borges, A História da Eternidade. (Ed. Globo, Obras Completas)
gelo foi derretendo e pingando e deixando entrever, sob a outrora gelada e espessa capa
branca, a forma de um gigante.
Ymir era o seu nome - e por ser uma criatura primitiva, dotada apenas de instintos, o
maniqueísmo batizou-a logo de má. Ymir dormiu durante todas estas eras, enquanto o
gelo que o recobria ia derretendo mansamente, gota à gota, até que, sob o efeito do calor
escaldante de Musspell, que não cessava jamais de descer das alturas, eis que ele
começou a suar. O suor que lhe escorria copiosamente do corpo uniu-se, assim, à água
do gelo, que brotava de seus poderosos membros - e este suor vivificante deu origem aos
primeiros seres vivos. Debaixo de seu braço surgiu um casal de gigantes e da união de
suas pernas veio ao mundo outro ser da mesma espécie, chamado Thrudgelmir. Estes
três gigantes foram as primeiras criaturas, que surgiram de Ymir; mais tarde, Thrudgelmir
geraria Bergelmir, que daria origem à toda a descendência dos gigantes.
Entretanto, do gelo derretido também surgira, além das monstruosidades já citadas,
uma prosaica vaca de nome Audhumla, de cujas tetas prodigiosas manavam quatro rios,
que alimentavam o gigante Ymir. Audhumla nutria-se do gelo salgado, que lambia
continuamente da superfície, e, deste gelo, surgiu ao primeiro dia o cabelo de um ser; no
segundo, a sua cabeça; e, finalmente, no terceiro, o corpo inteiro. Esta criatura egressa
do gelo chamou-se Buri e foi a progenitora dos deuses. Seu primeiro filho chamou-se Bor,
e, desde que pai e filho se reconheceram, começaram a combater os gigantes, que
nutriam por eles um ódio e um ciúme incontroláveis.
Esta foi a primeira guerra de que o universo teve notícia e incontáveis eras
sucederam-se sem que ninguém adquirisse a supremacia. Finalmente, Bor casou-se com
a giganta Bestla e, desta união, surgiram três notáveis deuses: Wotan (também chamado
Odin), Vili e Ve. Dos três, o mais importante é Wotan, que um dia chegará a ser o maior
de todos os deuses. E, porque assim será, um dia, ele próprio disse a seus irmãos:
- Unamo-nos a Bor e destruamos Ymir, o perverso pai dos gigantes!
Os quatro juntos derrotaram, então, o poderoso gigante, e com sua morte, acabou
também a quase totalidade dos demais de sua espécie, afogada no sangue de Ymir. Um
casal, entretanto, escapou do massacre: Bergelmir e sua companheira, que construíram
um barco feito de um tronco escavado e foram se refugiar em Jotunheim, a terra dos
Gigantes, onde geraram muitos outros. Desde então, a inimizade estabeleceu-se,
definitivamente, entre deuses e gigantes, cada qual vivendo livremente em seu território,
mas sempre alerta contra o inimigo.
Dos restos do cadáver do gigantesco Ymir, Wotan e seus irmãos moldaram a
Midgard (Terra-Média): de sua carne, foi feita a terra; enquanto que, de seus ossos e seus
dentes, fizeram-se as pedras e as montanhas. O sangue abundante de Ymir correu por
toda a terra e deu origem ao grande rio que cerca o universo.
- Ponhamos, agora, a caveira de Ymir no céu - disse Wotan a seus irmãos, após
haverem completado a primeira tarefa.
Wotan fez com que quatro anões mantivessem a caveira suspensa nos céus, cada
qual colocado num dos pontos cardeais. Em seguida, das faíscas do fogo de Musspell,
brotaram o sol, a lua e as estrelas; enquanto que, do cérebro do gigante, foram
engendradas as nuvens, que recobrem todo o céu.
Entretanto, após terem remexido a carne do gigante, com a qual moldaram a terra,
os três deuses descobriram nela um grande ninho de vermes. Wotan, penalizado destas
criaturas, decidiu dar-lhes, então, uma outra morada, que não, o Midgard. Os seres
subumanos, que pareciam um pouco mais turbulentos que os outros, foram chamados de
Anões e receberam como morada as profundezas sombrias da terra (Svartalfheim). Os
demais, que pareciam ter um modo mais nobre de proceder, foram chamados de Elfos e
receberam como morada as regiões amenas do Alfheim.
Completada a criação de Midgard, caminhavam, um dia, Wotan e seus irmãos sobre
a terra para ver se tudo estava perfeito, quando encontraram dois grandes pedaços de
troncos caídos ao solo, próximos ao oceano. Wotan esteve observando-os longo tempo,
até que, afinal, teve outra grande idéia:
- Irmãos, façamos de um destes troncos um homem e do outro, uma mulher! E
assim se fez: ele foi chamado de Ask (Freixo) e ela, de Embla (Olmo). Wotan lhes deu a
vida e o alento; Vili, a inteligência e os sentimentos; e Ve, os sentidos da visão e da
audição. Este foi o primeiro casal, que andou sobre a terra e originou todas as raças
humanas que habitariam por sucessivas eras a Terra-Média. Depois que Midgard e os
homens estavam feitos, Wotan decidiu que era preciso que os deuses tivessem também
uma morada exclusiva para si:
- Façamos Asgard e que lá seja o lar dos deuses! - exclamou ele, que, como se vê,
era um deus de energia e vontade inesgotáveis.
Este reino estava situado acima da elevada planície de Idawold, que flutuava muito
acima da terra, impedindo que os mortais o observassem. Além disso, um rio cujas águas
nunca congelavam - o Iffing - separava a planície do restante do universo. Mas, Wotan,
sábio e poderoso como era, entendeu que não seria bom se jamais existisse um elo de
ligação entre deuses e mortais. Por isso, determinou que fosse construída a ponte Bifrost
(a ponte do Arco-íris), feita da água, do logo e do mar. Heimdall, um estranho deus
nascido ao mesmo tempo de nove gigantas, ficaria encarregado, desde então, de vigiá-la
noite e dia para que os mortais não a atravessassem livremente no rumo de Asgard. Para
isso, ele portava unia grande trompa, que fazia soar todas as vezes que os deuses
cruzavam a ponte.
A morada dos deuses possuía várias residências, as quais foram sendo ocupadas
pelos deuses à medida que iam surgindo. O palácio de Wotan, o mais importante de
todos, era chamado de Gladsheim. Ali, o deus supremo linha instalado o seu trono
mágico, Hlidskialf, de onde podia observar tudo o que se passava nos Nove Mundos e
receber de seus dois corvos, Hugin (Pensamento) e Muniu (Memória), as informações
trazidas das mais remotas regiões do universo.
Entretanto, se na mais alta das regiões estava situado o paraíso daquele soberbo
universo, nas profundezas da terra, muito abaixo de Midgard, estava o Niflheim, o horrível
e gelado reino dos mortos. Lá pontificava a sinistra deusa ú, filha de Loki, que se regozija
Com a fome, a velhice e a doença, e que tem i lado a serpente Nidhogg. Esta se alimenta
dos cadáveres dos mortos e se dedica a roer continuamente uma das raízes da grande
árvore Yggdrasil, um freixo gigantesco que se eleva por cima do mundo e deita suas
raízes nos diversos reinos, entre os quais, o próprio Asgard. Ao alto da copa frondosa
desta imensa árvore, sobrevoa uma gigantesca águia, que vive em guerra aberta contra a
serpente Nidhogg. Um pequeno esquilo - Ratatosk -, que passa a vida a correr desde o
alto da Árvore da Vida até as profundezas onde está a terrível serpente, é o leva-traz dos
insultos que estas duas criaturas se comprazem em trocar sem jamais esgotar seu infinito
estoque de injúrias.
Nesta árvore fundamental, diz a lenda que o próprio Wotan esteve pendurado
durante nove longas noites, com uma lança atravessada ao peito, para que pudesse
aprender o significado oculto das Runas, o alfabeto nórdico, que rege e governa a vida
dos deuses e dos homens. Quando seu martírio terminou, Wotan havia se tornado,
definitivamente, o mais poderoso e sábio dos deuses, tendo o poder de curar doenças e
de derrotar os inimigos com sua poderosa lança, Gungnir - ao mesmo tempo, sua mais
poderosa arma e local de registro de todos os seus acordos.
Yggdrasil é o centro do mundo, e, enquanto suas raízes continuarem a suportar o
peso de seu prodigioso tronco e de seus ramos infinitos, o mundo estará firme e a vida
será soberana, sob os auspícios de Wotan, senhor dos deuses.

sexta-feira, 19 de março de 2010


Todos os dias, Freyja, a Deusa do amor, brincava e fazia travessuras nos campos. Um dia ela deitou-se para descansar e enquanto ela dormia, Loki, o astuto, o travesso, o mexeriqueiro dos deuses, foi espiar o brilho do Brosingamene, a tiara dela. Silencioso como a noite, Loki moveu-se em direcção à Deusa que dormia e, com os seus leves dedos, removeu a tiara prateada de sua branca nuca.

Em seguida, Freyja acordou e percebeu imediatamente a sua perda. Apesar de Loki se mover com a velocidade dos ventos, ela o viu ao longe e correu atrás, porém ele já havia pego a barcaça para a Dreun.

Freyja entrou em desespero. A escuridão envolveu-a para ocultar suas lágrimas. Grande foi sua angústia, toda luz e toda vida juntaram-se a ela em sua ruína.

Para todos os cantos foram enviados espiões em busca de Loki, mesmo sabendo que eles não o encontrariam. Pois quem dentre eles, excepto os deuses e o travesso Loki, poderia descer a Dreun e dali retornar? Devido a isto, ainda fraca pelo desgosto, a própria deusa do amor encheu-se de coragem e desceu a Dreun em busca do Brosingamene.

Atravessou os portais para a barcaça e apesar de reconhecida passou. A multidão de almas que ali se encontravam clamaram prazeirosamente ao vê-la e, mesmo sem que ela percebesse, lamentavam a perda da sua luz.

O infame Loki não deixou nenhuma pista a ser seguida, mesmo sendo visto em toda parte. Todos aqueles com os quais a Deusa conversava diziam-lhe com firmeza: "Loki não portava jóia alguma quando passou por aqui". Então, onde teria ele a escondido? Desesperada, Freyja o procurou por uma era.

Hearhden, o poderoso ferreiro dos deuses, não conseguia descansar devido o lamento das almas pelo pesar de Freyja.

E saiu a passos largos da sua ferraria, a fim de achar a causa do lamento. Então ele viu onde o mexeriqueiro Loki depositou a tiara prateada: sobre a rocha diante da sua porta.

Agora tudo estava claro! E quando Hearhden tomou posse do Brosingamene, Loki apareceu diante dele, sua face estava selvagemente raivosa. Apesar disto, Loki não atacaria Hearhden, pois este era um poderoso ferreiro cuja força era conhecida além de Dreun.

Loki usou de todos os seus truques e trapaças para pôr novamente suas mãos sobre a tiara. Mudou de forma; dardejou daqui para ali; tornou-se invisível e então visível.. Mesmo assim não conseguia enganar o ferreiro.

Cansando da luta, Hearhden tomou a sua poderosa clava e então afugentou Loki. Grande foi o regozijo de Freyja quando Hearhden colocou o Brosingamene novamente em seu pescoço.

Grandes foram os choros de prazer oriundos de Dreun. Grandes foram os agradecimentos que Freyja a todos os homens e deuses que ajudaram no retorno de Brosingamene.

Até que Hulda, deusa dos reinos subterrâneos, apareceu diante de Freyja, acompanhada por Loki, dizendo à Deusa que ela não poderia deixar Dreun sem pagar um tributo. Freyja mais uma vez caiu em desespero e disse a Hulda que nada possuía.

Porem Loki disse que a deusa portava o Brosingamene em torno de seu pescoço. Freyja soluçou e chorou, dizendo que jamais desistiria da sua jóia.

Hulda então disse que ela deveria dividir o Brosingamene com Loki: cada um passaria metade do ano com a jóia e somente assim Freyja poderia sair de Dreun. Freyja chorou e tentou de todas as formas não dividir a sua jóia com Loki, porém após algum tempo acabou concordando, dizendo que permitiria que ele o portasse por 6 meses.

A partir de então, o Brosingamene passou a ficar com Loki por metade do ano e, neste período, Freyja, angustiada, cai novamente em desespero, trazendo mais uma vez a sua volta à escuridão para esconder suas lágrimas, e uma vez mais toda luz, toda vida e todas as criaturas juntam-se a ela em seu terrível destino.

É por isso, então, que na metade da roda do ano, quando Loki toma o Brosingamene e Freyja fica desesperada, a escuridão desce e o mundo torna-se frio e gélido. E na outra metade, quando Freyja recebe novamente sua jóia, não havendo limites para seu regozijo, a escuridão é substituída pela Luz e o mundo torna-se quente mais uma vez.

A GUERRA ENTRE OS AESIR E OS VANIR


Um dia, quando o mundo ainda era jovem, bem antes de se formar o solo de Midgard, uma bruxa chegou a Asgard. Seu nome era Gullveig, e ela tinha um ardente desejo por ouro. Não falava sobre nada que não fosse o quanto ela amava ouro, até que Odin e todos os Aesir se cansaram dela. Ao fim de uma refeição, decidiram que o mundo ficaria melhor sem a ambiciosa Gullveig. Então ela foi torturada e queimada pelos Aesir, mas não conseguiram mata-la. Foi queimada 3 vezes, e 3 vezes renasceu e saiu do fogo. A ela foi dado um outro nome, chamaram-na Heid, a Cintilante. Ela era a Bruxa Suprema, podia ver passado e futuro, encantar varinhas de madeira, lançar feitiços, era uma mestra da magia.

Quando os Vanir souberam como Gullveig foi recebida pelos Aesir, ficaram furiosos com tamanha falta de hospitalidade. Juraram vingança e se prepararam para a guerra. Mas Odin podia ver e ouvir tudo o que se passava em baixo, assim viu os Vanir afiando as suas lanças. Então os Aesir começaram a polir os seus escudos.

Logo ambas as famílias se encontraram no campo de batalha. E então começou a primeira guerra da história quando Odin lançou a sua lança aos Vanir. A guerra continuou por muitos anos, e ficou claro que nenhum lado estaria apto a derrotar o outro.

Logo as duas partes decidiram que uma trégua seria melhor do que o caos em que se encontravam. Os deuses reuniram-se e discutiram sobre de quem seria a culpa da guerra. Os Vanir diziam que era culpa dos Aesir, e vice-versa. O acordo final seria que os Aesir e os Vanir viveriam lado a lado, em paz, e como exemplo disso eles intercambiariam líderes.

Os Vanir mandaram um dos seus grandes líderes, Njord, para viver com os Aesir. Freyr e Freyja, seus filhos, o acompanharam. Também mandaram o mais sábio dos Vanir, Kvasir, para viver em Asgard. Njord e Freyr assistiriam aos sacrifícios, enquanto Freyja ensinaria a todos os Aesir tudo o que ela sabia sobre bruxaria e magia.

Igualmente, os Aesir enviaram Honir, e o sábio Mimir para viver em Vanaheim. Honir era bem criado, apontado como excelente líder, tanto na paz como na guerra. Eles foram aceites e bem recebidos pelo Vanir. Honir foi apontado como líder, e Mimir seria seu braço direito.

Rapidamente os Vanir acharam que não haviam feito uma boa opção, decapitaram Mimir, e enviaram a sua cabeça de volta para Odin. Este pegou na cabeça, poliu-a com ervas de maneira que nunca apodreceria. Lançou encantos e fez com que a sabedoria de Mimir se tornasse a Sua Sabedoria.